samedi 12 juillet 2008

De Pandora e outros demônios

Então, o Brasil está pegando fogo. Mais uma vez (a terceira ou quarta desde a inconfidência de Roberto Jefferson em 2005), o país tem chance de abrir a caixa de Pandora e fazer uma operação mãos-limpas nos moldes do que se passou na Itália, e mais uma vez, ao que tudo indica pelo prende-e-solta recente, não vai acontecer nada.

Já que é assim, deixemos de lado o quebra-pau e a desinformação generalizada em que se transformou a imprensa brasileira e falemos de amenidades. Nem tão amenas assim, já que o assunto deste post é o aniversário de dez anos da final da Copa de 98, aquela do piti do Ronaldo e dos 3 a 0. Pois, hoje completa exatamente uma década daquele jogo que muitos preferiam que nunca tivesse existido.

Revi o VT completo do jogo (acabei de revê-lo, diga-se). O Brasil nem jogou tão mal assim. Tirando os vinte minutos iniciais, nos quais a França trancou o meio-campo e, mesmo que não o tivesse feito, são os minutos nos quais geralmente as duas equipes se estudam e normalmente não acontece nada, o time do Zagallo dominou amplamente as ações. A seleção francesa, por sua vez, jogou, depois dos primeiros vinte minutos, como um timeco retranqueiro. Como, de resto, é o jeito francês de jogar futebol desde sempre: uma Itália piorada.

A vitória dos bleus se construiu em cima de dois escanteios concedidos em dois momentos-chave do jogo: o primeiro, quando o Brasil estava muito melhor na partida, e o segundo, aos 46 minutos do primeiro tempo.

O primeiro escanteio foi, para dizer com todas as letras, uma cagada monstruosa do Roberto Carlos. O firulento resolveu fazer embaixadinha quase na linha de fundo e deixou a bola sair. Tivesse ele isolado para frente, ou para a lateral, não teria ocorrido o primeiro gol do Zidane e a história poderia ter sido diferente. Parece que depois disso o caboclo se habituou a entregar o jogo para os franceses, como no caso da arrumadinha na meia de 2006.

O segundo escanteio serviu para ligar a ducha fria no vestiário canarinho. Pequena falha digna de menção de Ronaldo, o epiléptico, que pulou sem vontade de afastar a bola.

A partir daí, o jogo degringolou, o Zagallo despirocou e a Seleção decepcionou.

Primeiro, com a entrada da enceradeira Denilson no lugar de Leonardo. O jogo brasileiro caiu todo pelo lado esquerdo (ao passo que no primeiro tempo ele ficou só no lado direito, com Cafu e Leonardo). E Denilson, que foi bem utilizado por Big Phil em 2002 – entrando no segundo tempo para irritar o adversário – irritou somente os torcedores brasileiros nessa final, com sua legendária falta de objetividade. Inclusive, essa insistência no uso da mesma lateral o tempo todo facilitou MUITO a vida dos defensores franceses, ou seja, todo o time francês menos o Zidane (que, diga-se, fez uma jogada de ataque aos cinco do primeiro tempo, os dois gols e mais absolutamente nada).

Depois, com a entrada do Edmundo no lugar do César Sampaio. Com quatro atacantes, o Brasil congestionou muito a (entrada da) área, e a dificuldade de se passar pelos zagueiros aumentou.

Ainda, a seleção francesa tinha muito mais vontade de ganhar que o Brasil, e isso se viu desde o início do jogo.

Finalmente, isso é que dá ter convocado, em 1998, meio time do Palmeiras de 1994.

2 commentaires:

Bernardo Esteves a dit…

Um prazer te reler!

Gostaria de rever esse jogo também. Achei muito interessante sua análise.

Discordo da sua generalização sobre os primeiros 20 minutos da partida. Há muitos jogos em que uma equipe - mormente quando tem mando de campo - já sai ligada no turbo e apronta um sufoca pra cima do adversário.

Ali, numa final de Copa, é normal que tenha havido mesmo esse recato - o mesmo que, com o jogo distante apagado da memória, ouso dizer que o Brasil mostrara diante da Itália quatro anos antes.

De toda forma, é ótimo ver uma apreciação do *futebol* dessa partida - aqui no bananal estamos fadados a discuti-la pra sempre à luz do piripaque do menino de ouro.

Sidney Mirandão a dit…

Salve, Bernardo!

Então, toda generalização é passível de crítica. Y compris a minha.

Mas tem uma coisa que me impressionou agora: nossa afinidade lexical. Eu tinha escrito piripaque antes de trocar por piti, e tirei a expressão "dia por dia" por medo de cometer um galicismo. E eis que você trás as duas mesmas expressões, aqui e no Twitter.

Bacana, isso. E valeu pela propaganda!