Hoje, porém, estava no metrô parisiense, num calor terrível, e me lembrei do tal soneto. Ou melhor, alguns trechos do soneto, os poucos de que ainda me lembrava, ficaram martelando na minha cabeça qual axé music chicletão que não vai embora nem que a vaca tussa. Foi um sentimento tão intenso, e tão insuportável, que tive que reescrever o soneto, para que eu conseguisse por fim alcançar a paz espiritual de que tanto necessito.
Reescrevi-o pois, os trechos pararam de martelar a cabeça, mas infelizmente não entrei em harmonia com o Universo. Paz espiritual é foda de ser alcançada. Em todo o caso, não ficou ruim o tal soneto. Lá vai:
Paris Revisited
Tenho saudades dos metrôs lotados,
Do cheiro infame dos blusões mofados,
Sombrio odor por sob a luz-Cidade,
Ácidas lembranças da mocidade.
Fiquei profundamente impressionado
Como esse povo pode feder tanto!
Cecê, xixi, cocô - meu Deus, um espanto!
É demais para mim, pobre coitado.
Na rua havia a ameaça canina:
Calçada tornada em campo minado
E o pé na merda em quase toda esquina.
Assim aos trancos vivi minha vida.
Guardo os sapatos (troquei o solado)
Eu amei Paris, cagada e fedida.