lundi 13 juillet 2009

Dia do Post anual

Então, meus caros, mantendo a regularidade britânica que me é peculiar, aqui vai o post desse ano. Trata-se de um soneto que fiz em 2001, em parceria com o Matheuzim (soneto em parceria é dureza... Azar), e que perdi para todo o sempre em 2002.

Hoje, porém, estava no metrô parisiense, num calor terrível, e me lembrei do tal soneto. Ou melhor, alguns trechos do soneto, os poucos de que ainda me lembrava, ficaram martelando na minha cabeça qual axé music chicletão que não vai embora nem que a vaca tussa. Foi um sentimento tão intenso, e tão insuportável, que tive que reescrever o soneto, para que eu conseguisse por fim alcançar a paz espiritual de que tanto necessito.

Reescrevi-o pois, os trechos pararam de martelar a cabeça, mas infelizmente não entrei em harmonia com o Universo. Paz espiritual é foda de ser alcançada. Em todo o caso, não ficou ruim o tal soneto. Lá vai:


Paris Revisited


Tenho saudades dos metrôs lotados,
Do cheiro infame dos blusões mofados,
Sombrio odor por sob a luz-Cidade,
Ácidas lembranças da mocidade.

Fiquei profundamente impressionado
Como esse povo pode feder tanto!
Cecê, xixi, cocô - meu Deus, um espanto!
É demais para mim, pobre coitado.

Na rua havia a ameaça canina:
Calçada tornada em campo minado
E o pé na merda em quase toda esquina.

Assim aos trancos vivi minha vida.
Guardo os sapatos (troquei o solado)
Eu amei Paris, cagada e fedida.

samedi 12 juillet 2008

De Pandora e outros demônios

Então, o Brasil está pegando fogo. Mais uma vez (a terceira ou quarta desde a inconfidência de Roberto Jefferson em 2005), o país tem chance de abrir a caixa de Pandora e fazer uma operação mãos-limpas nos moldes do que se passou na Itália, e mais uma vez, ao que tudo indica pelo prende-e-solta recente, não vai acontecer nada.

Já que é assim, deixemos de lado o quebra-pau e a desinformação generalizada em que se transformou a imprensa brasileira e falemos de amenidades. Nem tão amenas assim, já que o assunto deste post é o aniversário de dez anos da final da Copa de 98, aquela do piti do Ronaldo e dos 3 a 0. Pois, hoje completa exatamente uma década daquele jogo que muitos preferiam que nunca tivesse existido.

Revi o VT completo do jogo (acabei de revê-lo, diga-se). O Brasil nem jogou tão mal assim. Tirando os vinte minutos iniciais, nos quais a França trancou o meio-campo e, mesmo que não o tivesse feito, são os minutos nos quais geralmente as duas equipes se estudam e normalmente não acontece nada, o time do Zagallo dominou amplamente as ações. A seleção francesa, por sua vez, jogou, depois dos primeiros vinte minutos, como um timeco retranqueiro. Como, de resto, é o jeito francês de jogar futebol desde sempre: uma Itália piorada.

A vitória dos bleus se construiu em cima de dois escanteios concedidos em dois momentos-chave do jogo: o primeiro, quando o Brasil estava muito melhor na partida, e o segundo, aos 46 minutos do primeiro tempo.

O primeiro escanteio foi, para dizer com todas as letras, uma cagada monstruosa do Roberto Carlos. O firulento resolveu fazer embaixadinha quase na linha de fundo e deixou a bola sair. Tivesse ele isolado para frente, ou para a lateral, não teria ocorrido o primeiro gol do Zidane e a história poderia ter sido diferente. Parece que depois disso o caboclo se habituou a entregar o jogo para os franceses, como no caso da arrumadinha na meia de 2006.

O segundo escanteio serviu para ligar a ducha fria no vestiário canarinho. Pequena falha digna de menção de Ronaldo, o epiléptico, que pulou sem vontade de afastar a bola.

A partir daí, o jogo degringolou, o Zagallo despirocou e a Seleção decepcionou.

Primeiro, com a entrada da enceradeira Denilson no lugar de Leonardo. O jogo brasileiro caiu todo pelo lado esquerdo (ao passo que no primeiro tempo ele ficou só no lado direito, com Cafu e Leonardo). E Denilson, que foi bem utilizado por Big Phil em 2002 – entrando no segundo tempo para irritar o adversário – irritou somente os torcedores brasileiros nessa final, com sua legendária falta de objetividade. Inclusive, essa insistência no uso da mesma lateral o tempo todo facilitou MUITO a vida dos defensores franceses, ou seja, todo o time francês menos o Zidane (que, diga-se, fez uma jogada de ataque aos cinco do primeiro tempo, os dois gols e mais absolutamente nada).

Depois, com a entrada do Edmundo no lugar do César Sampaio. Com quatro atacantes, o Brasil congestionou muito a (entrada da) área, e a dificuldade de se passar pelos zagueiros aumentou.

Ainda, a seleção francesa tinha muito mais vontade de ganhar que o Brasil, e isso se viu desde o início do jogo.

Finalmente, isso é que dá ter convocado, em 1998, meio time do Palmeiras de 1994.

vendredi 18 avril 2008

Peraí, comé quié mezz??

Então, já que o mundo foi definitivamente para as cucuias (ou pras cucuia, que é mais bonito), dei de ler o tal do Samuel Beckett, que é um caboclo tão estranho quanto sua própria obra. Neguim me nasce na Irlanda e fica famoso escrevendo em francês, especialmente por uma peça de teatro onde dois camaradas ficam o tempo todo esperando um terceiro, que nunca chega. Tirante o fato de que esse terceiro seria Deus (Godot), o que é extremamente metafísico, o que me interessou e tem-me interessado no livro que estou lendo, e que nem é o Esperando Godot, mas Molloy, são duas coisas: primeiro, que cada frase do livro é de uma circularidade atordoante. Sério. Nunca tinha ficado tonto lendo um livro, até então. Já tinha ficado tonto dando voltas em meu próprio eixo, ou bebendo, ou jogando vídeo-games de assassinos em primeira pessoa (Wolf-3D, Doom, Duke Nukem etc.). Lendo um livro, foi a primeira vez. Segundo, o Beckett constrói a história através de uma superposição quase insuportável de contrários, o que me faz pensar em como a verdade hoje em dia, se é que ela existe, se traveste no mais das vezes em síntese mal acabada (ou puramente manipulada) de um silogismo categórico manco, em que as premissas são as negações umas das outras. A diferença é que a praia do Samuel Beckett sempre foi o absurdo, enquanto a "verdade" (penso especialmente em alguns blogs jornalísticos ou pseudo-jornalísticos que ando lendo por aí), apesar de tão ou mais absurda que a obra de Beckett, é propalada como se fosse coisa séria, verdadeira. O que não deixa de ser um absurdo, mas as pessoas acreditam.

Um trechinho, para mostrar mais alguma coisa antiga de extrema atualidade:

"C’est (...) une des raisons pour lesquelles j’évite de parler autant que possible. Car je dis toujours ou trop ou trop peu, ce qui me fait de la peine, tellement je suis épris de vérité. Et je ne quitterai pas ce sujet, sur lequel je n’aurai sans doute jamais l’occasion de revenir, avant d’avoir fait la curieuse remarque que voici, qu’il m’arrivait souvent, du temps où je parlais encore, d’avoir trop dit en croyant avoir dit trop peu et d’avoir trop peu dit en croyant avoir dit trop" (S. Beckett, Molloy, Paris, Les Éditions de Minuit, 1951).

vendredi 10 août 2007

Enquanto seu lobo não vem

Enquanto o blog padece da desorganização monstra de seu autor, deixo com vocês uma indicação que é meio jabá, meio auto-promoção (ou autopromoção, que eu esqueci quando tem hífen e quando não tem): esse post meu nesse blog que merece ser lido e acompanhado.